tag:blogger.com,1999:blog-4091024220865527132023-11-15T10:00:29.093-08:00Rabiscos da NêgaTudo e quase nadaNêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.comBlogger17125tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-53784822785537237772013-09-07T18:50:00.000-07:002013-09-07T18:50:01.049-07:00Desabafo - número três (porque abreviações continuam chatas)<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu sempre me considerei uma pessoa muito indecisa.
Às vezes tinha a impressão de ser a mais indecisa de todas elas. Ou seja, eu sempre
preciso de alguém que seja decidido por mim. Porque a minha indecisão é por
gostar demais de “tudo”, e não saber escolher. Por exemplo, eu adoro sushi, e
adoro sanduíche, mas quase nunca consigo escolher o que vou comer sozinha.
Sempre existe um fator mais "decidido" que faz isso por mim (normalmente
um amigo que aparece comendo uma das duas coisas na minha frente ou meu
dinheiro no momento).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Só que nem toda decisão é tão simples quanto sobre
o meu almoço. E eis que chegamos ao ponto que eu queria: Não dá pra ninguém
decidir por mim se eu quero ser solteira, ou se eu quero estar namorando. Não
dá pra pedir solteira na quarta e namorando na sexta.<s> Quem dera fosse
simples assim.</s><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O pior é que no fundo (lá no fundo, bem no fundo
mesmo) eu sei o que eu quero. <s>Ou acho que sei.</s> Mas o que eu
quero não existe. E eu já me magoei tanto esperando e sonhando com isso, que
decidi que não queria mais. Guardei num potinho e escondi lá dentro de mim.
Apostar demais na emoção não estava funcionando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu criei um ideal altamente utópico do que eu quero.
Quer uma prova? Vou tentar transcrever o que tá lá no potinho: Eu quero alguém
que me queira tanto que esteja disposto a me mostrar, sem forçar nada, que é
ele quem eu quero também. Quero alguém que me faça sentir formigando só de
lembrar dele, o dia todo. Quero alguém que tome a iniciativa que eu não tenho
coragem de tomar. Que me chame pra sair, mas que seja direto, sem deixar brecha
pra mal entendidos sobre quem vai ou de qualquer outro tipo. Quero alguém que
dê a cara a tapa, que venha falar comigo sem saber se tem chance. Que me olhe
nos olhos e diga “eu quero você”. E que quando eu começar a rir, chegue mais
perto, pra eu saber que é verdade. Quero alguém que me roube um beijo, só
porque pode ser que o momento passe. Quero alguém que simplesmente me abrace,
me beije no pescoço, e me diga que eu cheiro muito bem. Alguém que adore o meu
jeito maluquinho e que queira conhecer cada pedacinho meu. Que sorria bobamente
na rua só por lembrar de mim. Que me faça um elogio espontâneo que vai ficar na
minha cabeça por meses. Quero alguém que queira cuidar de mim, estar perto de
mim e não me cobre nada. Alguém com quem eu possa construir um sentimento
mútuo, que me dê liberdade e espaço. E que pura e simplesmente, me ame.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Você pode pensar agora “ah, não é
impossííííííível...”, moça, pra completar: Eu quero que seja recíproco. Afinal,
de que adianta se não for?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Resumindo: Eu quero alguém que não existe. Vê? Nem
sei se algum dia vai existir. Mas sei que não quero isso agora. Pelo menos eu
acho. Quer dizer... Percebe-se que é aqui que entra a indecisão. Pra fechar com
chave de ouro. Já não bastasse tudo ser muito confuso, a indecisão ainda vem
pra bagunçar mais e ao mesmo tempo me impedir de passar os dias chorando por
uma utopia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Às vezes acho que o errado é querer encontrar uma
pessoa assim pra sempre. Que o certo seria encontrar várias pessoas assim
durante a minha vida. Mas tenho tanto medo que acho que me fechei pra qualquer
um que seja, ou pareça, ou simplesmente tente ser esse ideal. E assim, no fim,
eu fico na merda do mesmo jeito.</span><o:p></o:p></div>
Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-40036720014569132312013-06-20T21:23:00.001-07:002013-06-20T21:23:44.148-07:00Porque não consegui ficar calada.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Gostaria de
poder dizer que hoje foi um dia lindo em todo país. Que o sentimento de mudança
tomou conta, e que todos resolvemos lutar pelo que merecemos: um país justo,
com educação, saúde, transporte público e políticos de qualidade. Um país que
respeita as diferenças e as opções de cada um. Um país que teremos orgulho de
chamar de nosso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Cheguei em casa
com um sentimento bom, tomada pelo espírito da luta. Ver tantas pessoas
caminhando pelas ruas da cidade (e faltando tantos meses para o Carnatal!) foi
incrível. O momento que me dei conta da proporção do movimento? Mais ainda.
Tive que subir naquelas divisórias da BR pra visualizar melhor. Olhei pra
frente e não conseguia acreditar. Virei-me e soltei um suspiro de satisfação. A
galera foi pra rua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Aqui em Natal
nós tomamos alguns sustos. Corremos desesperados algumas vezes. Mas nada
aconteceu, não comigo e meus amigos, ao menos. A confusão mesmo se deu perto do
maior shopping da cidade, onde vândalos perderam o controle e a polícia teve
que agir. E, aparentemente, na Av. Prudente de Morais, com tentativas de
assalto a bancos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É vergonhoso
pensar que em meio a um movimento tão bonito, tenham pessoas que só querem “fazer
bagunça”. Pichar paredes, quebrar vitrines, virar carros de emissoras de TV,
depredar de modo geral o patrimônio público (ou não), não é, nem de longe, a
melhor maneira de conquistar nossos objetivos. Assim só se perde a razão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas não foi por
isso que resolvi escrever esse texto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quando voltava
da manifestação passamos por policiais que nada mais nada menos, ajudavam as
pessoas a voltarem pela Salgado Filho. Mantendo a rua fechada, para que
caminhássemos livremente. Eles não moveram um fio de cabelo para nos machucar.
E foram aplaudidos. Teve até quem foi tirar foto com eles. E eu só conseguia
pensar em uma coisa “Será que isso tá acontecendo só aqui?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Porque pra mim,
até chegar em casa, e tirando as confusões no shopping e na Prudente, o dia foi
lindo. A população compareceu e mostrou que quer mudanças. E que sabemos lutar
pelo o que queremos – pelo menos a maioria. Mas, eu não fazia ideia do que
estava acontecendo nos outros estados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> A primeira coisa que descobri quando cheguei
em casa foi sobre a reação da polícia em São Paulo, no Rio de Janeiro, em
Brasília... Me desanimei um pouco. Não completamente, porque sei que mesmo
assim o movimento foi especial. Conseguimos fazer barulho, de uma maneira
incrivelmente positiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Até que eu
escuto no jornal o repórter noticiar que um jovem de 20 anos morreu atropelado
em Ribeirão Preto, por um carro que não respeitou a manifestação, e avançou
contra a barreira de manifestantes. Já fiquei chocada. Depois, resolvo dar uma
olhada nas redes sociais e vejo esse vídeo: <a href="https://www.facebook.com/photo.php?v=563613837023366">https://www.facebook.com/photo.php?v=563613837023366</a>.
Tentei me conter, mas não consegui. Ele acabou comigo. Quanta imbecilidade é
necessária pra fazer o que esse cara fez? Quanta burrice, irracionalidade, falta
de humanidade? Não sei. Não consigo aceitar. Ele não ganhou nada com isso, além
de prejuízo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Gostaria de
conseguir demonstrar o quão chocada e horrorizada fiquei. Mas as palavras se
perdem. Completamente consternada com o acontecido, só me resta mandar meus
sentimentos às famílias das duas pessoas que faleceram por causa dessa atitude
desumana. E torcer para que todos os outros feridos fiquem bem e que fatos como
esse não voltem a se repetir nos muitos protestos que ainda virão. Porque por mais que a repressão seja forte,
sei que vamos mostrar que viemos pra mudar.</span><o:p></o:p></div>
Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-29676328647559280042011-01-20T16:20:00.000-08:002011-04-02T22:57:38.004-07:00Por um tempo (sempre acaba)<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Para Nicole</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;"> .</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;"> </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu ainda não acredito que você vai embora. — Diana pega impulso no ar com o balanço.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não é como se eu fosse para sempre. — Clara faz o mesmo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Se fosse porque sua mãe foi transferida ou algo do tipo... Mas você escolheu ir Clarinha. Você só vai porque não para de brigar com ela. Pff. Ninguém disse que seria fácil.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— "No one ever said it would be this hard"</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu tô falando sério Clarinha, porque o que parece é que você nem pensou na gente, nas tuas amigas, nos teus amigos. Em todas as pessoas que você vai deixar aqui... Só em você. Que você vai e pronto, que quer ir. Por puro egoísmo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Clara para. Pega impulso com o chão e se atira do balanço. Sem esperar pela competição como faziam quando pequenas. Rola no chão e depois senta, olha bem para a Diana com os olhos cheios de lágrima. Por que ela tinha que tornar tudo tão difícil? Não é a primeira vez que falamos sobre isso. Eu já esperava por algo do tipo, mas não desse jeito. As palavras lhe atingiram em cheio. Ela nunca tinha usado “egoísmo”. Fora direta, rápida. Como o último soco de uma luta de Boxe. Nocauteada pela própria amiga. E doía, muito. Mas não se deixou abater, levantou-se. Continuou a encarar o olhar da outra, já sabia como lidar com a Diana. Os anos lhe davam essa vantagem.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Hipócrita. Você sabe que não é nada disso. Você sabe que eu vivo com a minha mãe desde sempre. Que nos últimos anos a nossa relação tem sido horrível e só vem piorando. A gente precisa de um tempo, e dois meses de férias não basta. Di, tantos foram os dias e noites que perdi pensando nisso, procurando outras soluções. Tendo conversas comigo mesma. Mas não deu pé. Eu não quero ser uma daquelas mulheres de trinta anos que mal falam com a própria mãe. Deixa a poeira baixar que eu volto, prometo. É só por um tempo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Diana não responde nada. E aquele silêncio parece pior do que qualquer outra palavra que pudesse sair de sua boca. Respira fundo, para de encarar o chão. Vê Clara hesitar, pensar em ir embora. Sente a dor e o peso da culpa em suas costas. Não pensa duas vezes, com um impulso básico pula do balanço em cima da amiga. Elas rolam um pouco e param.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Desculpa. Eu sei. E a gente já teve essa conversa antes. Você sabe o quanto odeio me sentir um disco arranhado, mas só não consigo acreditar. Não dá. É triste demais.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Deitam-se lado a lado na grama do parque. Sentem uma vontade de chorar mútua. Respiram fundo mais uma vez, as duas. E como um só ser, ambas deixam uma lágrima rolar até o chão. Perder-se naquela floresta para formigas. Em busca de um caminho, uma direção. Levando consigo um pouco da angústia de dois corações.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Sabe, “por um tempo” pode ser bem relativo. Às vezes pode até durar pra sempre. — Diana deixa a última frase no ar. Não falam mais nada. Apenas tentam não acreditar naquilo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Minutos passam e o silêncio deixa de ser reconfortante. Diana abre os olhos e vira a cabeça para amiga. Está de olhos fechados, concentrada em sua respiração, sentindo a leve brisa acariciar seu rosto. Faz o mesmo. E então é a vez de Clara. Abre os olhos e observa Diana. Volta a olhar o céu, limpo, cheio de estrelas, a lua crescente, lindo. Respira fundo mais uma vez e pega a mão da amiga. Aperta-a forte. A outra desperta de um quase sono. Aperta a mão de Clara de volta. Entendeu. É hora de ir. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Olha, não me apronta demais por lá tá? Não sem mim. — Diana começa, segurando o choro. — Mas aproveita muito, e não te apaixona por ninguém senão depois tu não queres mais voltar. E teremos um problema. — Risos leves. — Não esquece por nada de mim. Por favor. Pode parecer bobagem, mas falo sério. Nós tivemos nossos desentendimentos, nos afastamos, reaproximamos e nos afastamos de novo. Mas primeiro que você é aquela pessoa que no fim eu sei que posso sempre contar e espero muito que seja um sentimento recíproco. Espero que você saiba que quando precisar eu to aqui. Segundo que uma vez eu li na internet que “amigas de verdade não se separam, apenas seguem caminhos diferentes”, ou algo do tipo. Pode ser piegas o quanto for, mas eu tinha que te dizer isso...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Clara não deixa a amiga terminar, abraça-a forte. Um abraço de anos de amizade, de amor fraterno, de lembranças, de saudade antecipada. Diana aperta-a de volta. Compartilhando tudo aquilo. Pensando em como vai conseguir viver sem ela. Ainda não chegou a uma conclusão. Porque mesmo que não estivessem se vendo todo dia ela fará falta. Muita falta. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Antes que Diana possa continuar Clara olha-a bem nos olhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Só me promete uma coisa Di, que você não vai chorar, nunca. Não por eu ir embora. Porque mais do que qualquer palavra, silêncio ou suspiro, te ver chorar iria doer mais. Demasiadamente mais. Poxa, você é a Diana, porra. A forte, a inteligente, a que pensa antes de agir, mas comete a loucura só para curtir. A que entende, que consola, que ajuda. Você não chora por qualquer coisa...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Isso não é qualquer coisa.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Mas não é uma coisa importante. Eu volto, já disse. Pronto. — As duas se ajudam e levantam. — E mais uma coisa, eu te amo, cacete. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu te amo, porra.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ainda havia muito o que dizer, mas aquelas três palavras, aquelas sete letras, elas resumiam tudo. Da mais perfeita maneira. Mais um abraço. Mais forte, quase sem fim.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Caminharam juntas para casa, trocando poucas palavras. Brincando uma com a outra, lembrando. Os melhores momentos, as melhores piadas, os dramas inúteis e infantis. Chegaram à frente da casa de Clara, Diana morava cinco casas para lá, bem perto. Pararam. Suspiros. Era agora.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não esquece tá?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— O quê?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— De mim, e que eu te amo. Ponto.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Nem você de mim. Eu é que te amo. Ponto.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Riem, mas só por um breve momento. Mas uma longa respiração. Clara vai dizer algo antes de lhe dar mais um abraço, mas Diana interrompe.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Tenho que ir. Tchau Clarinha. Boa viagem.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Uma mão no ombro, um meio sorriso, nenhum abraço. Clara fica atônita, sem entender a atitude da amiga, decepcionada. Virou-se e saiu andando rapidamente, sem lhe dar tempo para o último abraço em algum tempo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O vento levava os cabelos de Diana, empurrava-os para todos os lados. Brincava de bagunçá-los. As lágrimas também. Fazia com que caíssem numa trajetória torta, agitadas, uma tempestade de águas salgadas. Carregadas de dor, tristeza e algo mais. Saiu rapidamente de perto da amiga. Afastou-se para não fazê-la sofrer. Para manter a promessa. Ainda hesitou em voltar correndo e lhe dar aquele último abraço, mas agora não tinha mais volta. E já tinha prometido. Preferiu a sua dor à dela.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Mas aquele “não abraço” doeu tanto em uma quanto na outra. Ambas tinham medo. Medo de tudo que havia por vir. Medo do presente. Medo do futuro. Medo de não conseguir. Medo de tudo dar certo só para uma das duas. E apenas medo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Chegaram em casa, entraram em seus quartos, ligaram o computador. As duas aparecendo offline, as duas em silêncio. Uma música. Duas meninas, amigas, que se amam mas vão se separar. No fim da canção, uma certeza. "O para sempre, sempre acaba".</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-8523995450310417712010-12-21T15:06:00.000-08:002011-01-07T09:52:55.990-08:00Desabafo - número dois (porque continuo não gostando de abreviações)<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Não é que eu te odeie...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Na verdade é sim. Eu te odeio. Um ódio tão platônico quanto o amor que sinto por você. Amor tal que me faz <i>me</i> odiar.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O problema do ódio platônico é que ele acaba sendo ódio por si mesmo. Assim, no fim eu me odeio muito mais, e continuo <i>te</i> amando.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">E fui eu que fiz isso. Tudo. Entre a gente sempre foi assim, tudo por minha conta. Porque por mais complicado, confuso e misterioso que você pareça, você foi bem claro, desde o início. Não, é <i>não</i>. Ponto final.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Mas minha cabeça achou que seria fácil com você. Ela quis isso. Porque até então, tudo estava sendo tão difícil. Ela nunca esteve tão enganada. Foi ela sozinha que me fez me apaixonar por você, que me fez odiar você, que me fez sofrer por... Esquece. O importante é que foi tudo eu quem fiz. <i>Eu</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Eu me torturei. Eu me joguei. De cima de um penhasco. Eu jurei que no fim você me seguraria lá em baixo. Mas isso <i>não</i> aconteceu.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Então eu corri. Corri o mais rápido que pude, para outro lugar. Qualquer lugar. Dei voltas e voltas e acabei chegando à mesma cena. Todo mundo em volta de uma menina jogada. No chão. <i>Desiludida</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Fui eu quem mais uma vez me fiz voltar. Eu criei alucinações nas quais você se importava. Eu transformei coisas que você fazia, que você falava. Eu dei a tudo um significado, porque eu <i>precisava</i> que algum existisse. Porque sou eu sempre que faço tudo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Só que agora eu não posso mais. Eu cansei. De correr, de sofrer, de (não) chorar, de odiar e, mais do que tudo, de <i>amar</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Eu tô aqui no chão frio, esperando ajuda. Passando a bola para você. É a <i>sua</i> vez de tentar, de correr, de me amar e de <i>sofrer</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Eu desisti. É duro admitir, mas eu o fiz. Resolvi ficar aqui deitada. Quem sabe eu não durmo e descubro que tudo foi apenas um sonho ruim?</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-83174878052732111642010-12-09T05:00:00.000-08:002010-12-11T23:33:28.630-08:00Pais e filhos - O garoto<div style="text-align: center;"><i>Primeiro de uma série de contos sobre o mesmo assunto.</i></div><div style="text-align: center;"></div><span style="font-family: Calibri;"> </span> <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Eram ótimos pais. Incríveis, de verdade. Luísa era sensata, carinhosa, artística. Alberto era divertido, atencioso, competente. Amavam-se. E amavam o filho, tenha certeza disso. Dias como esse aconteciam raramente. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O filho, bem, ele era assim... Como posso dizer? Como era o filho mesmo? </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ah, é. Ele era. Ele é...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">“Uma fofura!”; “A coisa mais gostosa da tia!”; “Um homenzinho!”...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— O meu garoto! — Exclamou Alberto, jogando os braços para cima.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— O <i>nosso</i> garoto, você quis dizer. — Luísa disse, entrando na espaçosa sala da não tão grande casa rústica, vinda da cozinha.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Só porque eu disse “meu” não quer dizer que ele não seja seu.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não, não quer, para nós que somos grandes o suficiente para entender, Alberto. Agora o garoto, só tem cinco anos. Você fica falando essas coisas depois ele vai achar que é só seu.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Que coisa Luísa, claro que não. Ele é capaz de entender o que eu disse, ele sabe que você é mãe dele. Que ele <i>também</i> é seu. E o garoto acabou de fazer um gol em mim, <i>sem eu deixar</i>...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— No futebol de botão.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— E o quê que tem? Eu jogo futebol de botão sim. E com muito orgulho! Eu ensinei o garoto a jogar, tenho todos os créditos sobre os avanços dele. Assim como todo o direito de dizer “meu garoto”.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Acontece que o garoto não queria aprender. Você acha que se ele tivesse tido a chance de escolher, ele não escolheria um videogame? Você quer que ele faça tudo o que você fazia quando menino, você quer que ele se torne você!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Lá vem você com essa história de videogame de novo. O garoto tem que ser menino, tem que brincar de pique, esconde-esconde, jogar bola. Não ficar em casa trancado no quarto olhando para televisão controlando um boneco virtual fazendo o que <i>ele</i> devia estar fazendo. Olha, quando você ensinar o garoto a fazer alguma coisa nessa casa, como lavar a louça sem quebrar um prato...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— E por que eu ensinaria isso? Você fala como se eu não pudesse ensinar um dos meus “Hobbies” ao garoto.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Primeiro, quando você diz Hobbies, parece que o futebol de botão é um para mim, o que me ofende um pouco, afinal não é só um “hobby” — Ele faz aspas no ar. — é muito mais do que isso, é...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Aonde você quer chegar Alberto?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Tá, você pode ensiná-lo a pintar sem manchar a blusa, um acorde no violão sem olhar as cordas ou o que você quiser. Meu ponto é: você vai dizer o quê? — Ela pensa — Exato. E eu deixo você dizer que ele é seu. Eu deixo você com os seus créditos. Agora me deixe ficar com os que me pertencem e dizer que ele é meu enquanto EU estou ensinando ao garoto.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ela bufa. Ele volta o corpo pro jogo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Então filhão, onde estávamos? Filhão? Ué, cadê o garoto?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Sei lá. Não era você que estava ensinando a ele?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Uns segundos de silêncio. Barulhos vindos do escritório. Entreolharam-se.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">E lá estava O Garoto. Procurando veemente nas caixas, pela sua certidão de nascimento. Que ele era dos dois ele entendia, que tinha que ser menino, também. Mas do seu nome, até ele já havia esquecido.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-56173023746134319572010-11-02T15:30:00.000-07:002010-11-02T15:30:44.151-07:00Um pouco sobre a melancolia (em diálogos)<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">Diálogos VI</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Por que você fala tanto de morte nos seus textos?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Não sei. Acho que ando um tanto quanto melancólica.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu sempre fui melancólica, mas nem por isso falo de morte nos meus textos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Claro, você não escreve.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">Diálogos VII</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Ainda assim. Se eu escrevesse não seria sobre morte.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Tudo bem. Talvez eu ande melancólica <i>demais</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Melancolia demais não existe. Agora, depressão...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">Diálogos VIII</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Acredito que possamos arrumar uma solução melhor.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Ah, talvez você seja uma sociopata.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— É, talvez.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">Diálogos IX</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Agora podemos mudar de assunto?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Tudo bem... Farei o que você quiser, você pode mesmo ser uma sociopata e a qualquer momento virar com uma faca pra mim!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Ai meu Deus... (suspiro).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">Diálogos X</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Acho que os sociopatas não agem assim.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Bem, é você que entende do assunto. Mas anda um pouco mais pra lá e deixe suas mãos onde eu possa ver.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Não confia mais em mim?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Não é bem assim... É só que é a minha vida que está em jogo.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-70524578757826140912010-11-01T19:00:00.000-07:002010-11-01T10:01:13.071-07:00Pela janela<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Estar sozinha em casa naquela noite a assustava um pouco. Mas, só um pouco. Tá talvez fosse mais que isso. Tinha acabado de assistir um filme de terror com o namorado. O mais terrível de todos os filmes de terror de sua vida. Também o único, mas ninguém precisava saber.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Os pais saíram para um jantar com alguns amigos e o namorado precisava ir pra casa. Ou seja, estava sozinha naquela enorme, escura e sombria com a noite, caixa de concreto. Respirou fundo. Foi até seu quarto acendendo as luzes pelo caminho. Deixou a bolsa, os sapatos, e trocou o vestido por uma roupa mais confortável.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Voltou para a sala e ligou a televisão. Uma reportagem sobre desnutrição, um desenho animado, um filme qualquer com a pior dublagem do mundo. É, nada de interessante para ver. Desligou a televisão e continuou deitada no sofá, tentando pensar em algo para fazer... Nada. Sua mente estava vazia.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Pelo menos, estar vazia era melhor do que pensando em... Droga! Por que tinha que ter pensado naquilo? Agora estava novamente angustiada. Começou a olhar para os lados, desconfiada. Qualquer barulho lhe assustava.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Pam! Alguém bateu à porta, em seguida, uma risada. A risada mais que maléfica. Encolheu-se no sofá. E lembrou da cena mais horrível do filme. Estava sonhando. Só podia. Pam! Bateram novamente. Foi atender a porta com o celular em mãos. Parou.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Diante a entrada seu coração pulava de seu peito. Suava frio e tremia. Engoliu em seco. O que fazer? Colocou a mão na maçaneta e respirou fundo. Antes de abrir a porta ligou para o namorado. Não atendeu. De novo. A mesma coisa. Mais uma vez.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">“Alô?” ela escutou do outro lado da linha. Alívio. Explicou tudo rapidamente. “Alô?” ele perguntou novamente. Ela não entendeu. “Isso é algum tipo de brincadeira? Se for não tem a menor graça!” ele disse furioso, estava ocupado com a mãe doente, não podia perder tempo com brincadeira de criança. Ela entrou em desespero. Tentou gritar para ele que era ela, que não estava brincando, que estava com muito medo, mas nada saía e ele desligou enfurecido. Soluço.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Quem estava batendo à porta cansou de esperar. A porta abriu-se sem ela fazer uma força sequer. Gritou. Viu quem era e saiu correndo. Escorregou na escada. Desespero. Ele vinha atrás dela. Com uma máscara de soldador e o avental de jardineiro. Nunca havia visto aquele sujeito em sua vida. Mas, mais assustador impossível. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Levantou-se, correu mais um pouco e escorregou novamente. Ele a alcançou. Colocou-a de pé rapidamente e pressionou a garota contra a parede. Tirou a máscara. E olhou diretamente para os olhos verdes e assustados.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Era bonito. Mas definitivamente um maníaco. Tirou a luva de uma das mãos e acariciou a pele macia da jovem. Nunca tinha visto beleza tão pura. Tirou a outra luva e correu suas mãos por toda a extensão do corpo dela. Linda. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Beijou o pescoço, os ombros e rasgou a camiseta velha. Por baixo da roupa confortável, a lingerie mais sexy que já tinha visto. Ela estava horrorizada, mas não conseguia gritar novamente. Não esperneou, pois não queria atiçar os instintos do estuprador. Ele arrancou a calça dela em um segundo. Entrou no primeiro quarto que encontrou e jogou-a na cama.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Arrancou a calcinha branca, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa. Um grito, estrondoso, agudo e aterrorizado. Pam!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Acordou. Foi só um sonho. O mais horrível de sua vida. Olhou rapidamente em volta. Ainda estava na sala, havia adormecido com a reportagem sobre desnutrição. Escutou chaves na porta. Os pais, até que enfim. Desligou a televisão e subiu rapidamente. Tão rapidamente, que não pôde ver quem a observava pela janela.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-60443977244421202642010-10-31T19:59:00.000-07:002010-10-31T19:59:40.998-07:00Diálogos V<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<span style="font-family: Calibri;"></span><span style="font-family: Calibri;"></span><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Não acredito que eu fiz isso. Ele vai achar que to perseguindo ele!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— É, vai mesmo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Me mata!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Calma não seja tão radical. Sem falar que você já queria que eu matasse todo mundo, daí vira uma chacina. Não rola.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Tudo bem. Eu não quero ser amiga de uma serial killer</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Ah, mas se eu virar uma não se preocupa. Quando você descobrir, logo já estará morta. </span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-90890494302360103822010-10-30T13:40:00.000-07:002010-10-30T18:26:32.853-07:00Fases<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Fases são aquelas etapas e processos do crescimento pelas quais todos passaram ou passarão. Denominadas pelos estudiosos como “fases” para, sei lá, parecer que alguma conclusão já foi tomada. É apenas mais um modo de tentar entender o comportamento humano. Enfim, não quero falar sobre como os mais velhos insistem nessa coisa de entender o nosso comportamento, quando às vezes agimos mais irracionalmente do que qualquer outro animal.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Quero dar a minha própria perspectiva sobre algumas dessas “etapas”. Sabe aquela fase da infância, quando você tem entre seis e sete anos, e se torna uma criança curiosa, em busca de entender todos aqueles dilemas para os quais você não conseguiu achar uma resposta plausível, na famosa “Fase do Porquê” que ocorre entre os dois/três anos de idade?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Então </span><span style="font-family: Calibri;">—</span><span style="font-family: Calibri;"> minhas primas estão passando por ela (Deus queira que seja só <i>passando</i>!)</span><span style="font-family: Calibri;"> —</span><span style="font-family: Calibri;"> é uma das piores. Porque além de afetar quem está passando por ela, afeta as pessoas do círculo social da tal criança. Quer um exemplo?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Você está lá servindo de babá-por-um-dia a contra gosto. Daí vem aquela pobre, curiosa e inocente criança e diz “Posso fazer uma pergunta?”. Você vira e encara aqueles pequenos olhinhos trêmulos e lacrimejantes, sedentos por sabedoria. E aquela carinha de anjo sorrindo com quatro dentes de leite (porque o resto já foi) suplicando pra você responder uma perguntinha só... Não tem como dizer não.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas ainda assim, você responde na boa. O que ela poderia querer saber? Você diz sim e espera que ela pergunte “Por que o céu é azul?”, “Papai Noel existe?”, “Qual a fórmula da Coca-Cola?”. Ou ainda, naqueles casos mais extremos “De onde vêm os bebês?”. Perguntas fáceis e de respostas automáticas </span><span style="font-family: Calibri;">— “</span><span style="font-family: Calibri;">Porque sim”. “Não, digo, sim”. “Isso é mito!”. “Simples, cegonhas”).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">E lá estão vocês, no parque, praça, quadra (qualquer lugar cheio de outras crianças, pais e afins). E ela solta a pergunta: “Você já tem menstruação?”. TODO MUNDO PARA. Não importa se você é menino ou menina. Ela vai perguntar do mesmo jeito. Vai te constranger do mesmo jeito.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Sabe por quê? Porque primeiro: você não vai saber o que responder. Segundo: as outras crianças não vão saber o que é “menstruação”. Terceiro: quando você tentar explicar, aquelas da “Fase do Porquê” vão ficar o tempo todo perguntando por que. Pra tudo. E pra finalizar: as mães que estão por perto vão achar que você é uma pessoa pervertida ensinando coisas insanas para os filhos delas. Daí você vai ganhar de presente uma ordem jurídica que vai te proibir de chegar perto do tal parque, praça ou qualquer outra coisa.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O pior nessa história toda, é que no final, no final mesmo, depois de tudo o que você já passou. O constrangimento, a vergonha, a ordem judicial. Ainda vem aquela criança um pouco mais velha, que está passando pela “Fase da Mentira” e diz que tudo o que você disse não é verdade. Ela acaba com você. Com a sua moral. Porque a Criança Curiosa vai acreditar nela e não em você.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">E as únicas conclusões que podemos tirar disso tudo é que é inútil discutir. Por maior que seja sua paciência. No final uma criança malvada vai pisotear a sua moral. Então se sua irmãzinha, priminha, vizinhinha ou qualquer outra coisa que defina uma criança pequena vier te fazer uma pergunta, por mais inocente que ela seja (a pergunta, não a criança, acho que deu pra perceber que no fundo nenhuma delas é), não tente responder do jeito certo, ela não vai acreditar em você mesmo. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">E que mais inútil do que tentar explicar, é tentar entender as “fases”. Porque elas vão se influenciar, se misturar e perder o sentido. Daí não adianta criar conceitos ou tirar conclusões. As criancinhas não vão prestar atenção e vão, simplesmente, bagunçar tudo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;"> </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: right; text-indent: 18pt;"><span style="font-style: italic;"><i>...Essa foi uma visão bem pessimista da infância, não levem tão a sério.</i></span> </div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-76120198874356304232010-10-26T18:14:00.000-07:002010-10-26T18:14:48.502-07:00Diálogos IV<div style="text-align: center;"><i>(pra compensar o II)</i></div><div style="text-align: center;"><i> </i></div><div style="text-align: justify;"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Se ele pelo menos te desse bola...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Acho que isso é o mais irresistível.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Não deveria. Eu hein. Mas te entendo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Como? Você nunca gostou assim de alguém.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu tenho uma imaginação fértil.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-11314303930723978092010-10-25T07:00:00.000-07:002010-10-25T07:00:10.397-07:00Superstições<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Estavam deitados no chão do quarto da irmã dele. Já fazia um bom tempo que esperavam todos os adesivos no teto pararem de brilhar. Olhou para ela. A garota mais divertida com quem já tinha saído. Linda, inteligente, perfeita. Isso se perfeição existisse.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">No sábado passado eles se declararam. Pela primeira vez. Estavam mais ou menos como agora. Deitados na grama, olhando pro céu estrelado. Afastados do resto da turma que cantava ao redor da fogueira improvisada.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Olhou novamente para o teto com os vários adesivos. Apenas uma lua e uma estrela persistentes permaneciam brilhando. Aos poucos a lua foi ficando mais clara, até que escureceu. A estrela continuava lá. Ele parou com os devaneios. E voltaram a conversar. Sobre isso, aquilo, etc. e tal.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Ah, fala sério? Nenhum tipo de superstição?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Nenhunzinho sequer. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Gato preto? Bater na madeira? Contar o número das placas? Quebrar espelhos?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não, não, não e não.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Nem nas boas você acredita? Ou naquelas meio personalizadas?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Personalizadas?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— É, tipo... Ah sei lá. Quando você diz que uma coisa só acontece se outra acontecer, e ela acontece. Sabe?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Acho que sim. Mas não, nem nessas. — Concluíram que o garoto odiava superstições. Ele riu.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ficaram em silêncio novamente. Ela encucada com a falta de fé do namorado. Ele observando o teto “estrelado”.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Lembra quando eu disse que meu amor por você é tão grande que só ia acabar quando a última estrela parasse de brilhar? — Apontou para o último adesivo que resistia, mas começava a sumir.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Escuridão.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— E então? — Ela perguntou.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— É. Nada. O meu amor é mais forte do que isso. Mas acho melhor acender a luz, só pra garantir.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Fazer o que? Ele não gostava de qualquer tipo de superstição.</span><span style="font-family: Calibri;"></span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-22158823274443647502010-10-24T15:28:00.000-07:002010-10-24T15:28:24.491-07:00Diálogos III<div style="text-align: center;"><i>(porque o I e o II não vale a pena postar)</i></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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</div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-42993203531846108412010-10-23T22:22:00.000-07:002010-11-27T12:55:19.735-08:00Madrugada<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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A piedade.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ela sabia. Morrer aos dezenove não era morrer do jeito mais bonito. Principalmente levando em conta a doença que a pegara. Ela entendia. Era triste ver alguém tão novo morrer assim. Mas aceitava. “Se a hora chegou, chegou”. Essa era sua frase que a mãe mais odiava.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Respirou fundo. Queria voltar a dormir, mas não conseguia. Buscou no quarto com cheiro esquisito algo que pudesse lhe acalmar. Inútil. Não sabia de onde tiraram essa idéia de que quarto de hospital tem que ser daquele jeito. Tudo a incomodava. Mas nada mais do que o cheiro. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Álcool com formol e comida enlatada. Era isso. Ou quase, de vez em quando mudava. Alguém trazia flores (aquelas velhas rosas amarelas que se dá para avó doente), a tia perua com perfume francês vinha visitar, ou, como ela costumava dizer, “o cheiro de morte tomava conta do local”.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Cheiro tal, exalado da melancolia de todos os amigos e familiares ali presentes. Alguns tentavam disfarçar, fingir. Contavam as piadas mais infames e sem noção. Ela ria. Devia ser no mínimo educada.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Avistou o livro que ganhara do pai ao lado da cama. Nem era tão bom, mas servia para lhe dar sono. Tentou pegá-lo, mas o deixou escorregar. Acabou acordando <i>ele</i>. Sorriram.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ela porque não conseguia evitar. O garoto era um dos motivos de estar lidando tão bem com tudo. Há duas semanas eles haviam fugido do hospital e ido, como explicou aos berros para a mãe, “viver um pouquinho o resto de vida que eu tenho!”. O que ela não disse foi que em quinze dias viveu mais do que em dezenove anos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Dançaram pelas ruas da cidade, como loucos apaixonados. Entraram de penetras nas festas mais inusitadas. Foram perseguidos pela polícia numa moto roubada. Viajaram o mundo apenas com os olhos fechados. E fotos registraram, congelaram e guardaram os melhores momentos de toda aquela loucura.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ele porque não podia negar. Amava-a. Um amor tão grande que nem o maior dos gigantes conseguiria abraçar. Era sua melhor amiga e seu grande amor. Aproximou-se. Curvou-se para apanhar o livro, ela o parou.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Deixe-o aí, não vou precisar dele agora. — Mais uma vez sorriram juntos. Como uma orquestra em perfeita sintonia. Tudo entre eles era.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Você deveria estar dormindo. Sua mãe não gosta quando você não tem tempo de descansar.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Ela não está aqui. Ninguém está. Só nós dois...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Onde você quer chegar com esta conversa?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Você sabe muito bem. É o único item que falta da lista. Tenho que fazer tudo, senão não vai dar certo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu sei. E eu lhe prometi, não prometi? Nós vamos fazer. Tudo. Só que você ainda não está pronta.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Estou sim! Me leve a uma farmácia, vai ver, posso comprá-las sozinha. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ele riu. Ela fez bico.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Sei que pode. Mas não foi neste sentido que usei a palavra “pronta”. Precisa se fortalecer, nossa loucura não fez muito bem ao seu organismo. Assim que você se recuperar, prometo que faremos. — Acariciou-lhe o rosto e beijou-lhe a face</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Mas isso não vai acontecer. Logo, logo eu vou mor...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Já disse que não gosto quando você fala assim. — Encarou os olhos claros e sinceros. Como alguém tão puro podia morrer assim? <i>Ele</i>, apesar de tudo, ainda não entendia. — Há uma chance de...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Uma em um milhão! — Essa era a única coisa que a indignava.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não é bem assim. </span><span style="font-family: Calibri;">— A insistência.</span><span style="font-family: Calibri;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Claro que é. Mas não quero discutir isso de novo. Ainda mais com você.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Silêncio. Ela suspirou. Permaneceram daquele jeito por mais um tempo. Outro suspiro. Estavam deitados juntos na cama desconfortável, do quarto com cheiro esquisito, no hospital melancólico.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Uma moeda pelo seu pensamento. — Ele quebrou o silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Só quero se for um beijo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Feito. — Ele a beijou. Mas um daqueles doces beijos. Por que com ele tudo parecia perfeito? Ela não sabia, mas adorava que fosse daquele jeito.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Estava me lembrando daquele dia na praia. Do último dia da nossa viagem mágica. Daquela madrugada. — Fechou os olhos. — O vento em nossos cabelos, o som das ondas quebrando e depois vindo fazer cosquinhas nos meus pés. A areia, o céu, você ali ao meu lado. Deixando tudo mais perfeito. — Sorriu para si mesma, imaginando toda a cena e o local. — O clique da última foto. A definição do horizonte. Lembra?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ele massageava a garota, passando a mão em seus cabelos, e não respondeu. Não precisava. Não havia como esquecer, ela sabia disso.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Estar lá, naquele momento, me fez viajar e não pensar em... Tudo. Naquele momento a única coisa que me consumia era você, o meu amor por você, o <i>nosso</i> amor. O que eu mais queria agora era estar lá e sentir aquele cheiro novamente. O cheiro...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ela parou. Ele também. Um barulho. Um apitar alto de várias máquinas. Médicos, enfermeiras, todos começaram a entrar. Medo e desespero. O garoto não sabia o que fazer. Seria esse o fim? Ela ia simplesmente embora, na frente dele? Ia correr para longe sem ao menos olhar para trás?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Um, dois, três. Tum! “Mais uma vez” repetia o médico. Um, dois, três. Tum!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Acordou com um susto. Olhou em volta. Quase não reconheceu o lugar. Tudo coberto de areia, as cortinas fechadas, a luz artificial e um grande painel com aquela foto. A última foto. Ele passou a mão delicadamente em seu rosto. Um arrepio. Molhou as mãos em um aquário e pingou nos pés dela. Fez cócegas. Ela sorriu. Uma lágrima caiu e rolou pelo seu rosto. Não havia barulho algum, nem sequer o menor dos ruídos, além do leve quebrar das ondas ao longe, vindos de um aparelho de som qualquer. Mais aquários espalhados pelo quarto exaltavam o cheiro da praia. Flores pra complementar com seu perfume e o cheiro de tudo aquilo que fizeram naquela noite. Até um pano imitava o céu!</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Aproximando-se soprou os cabelos dela levemente. Que sentiu o hálito quente e fresco levar seus cachos e sorriu fechando os olhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— O que achou? — Perguntou ele colando o nariz no dela, exatamente como da outra vez. — Perfeito?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Não, melhor ainda.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Está sentindo?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Estou. É o cheiro daquela madrugada.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-13200614109754126292010-10-22T21:23:00.000-07:002010-10-23T09:28:29.387-07:00(Des) Pedaços<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O pai saiu do cômodo sério e com passos firmes. Um tanto envergonhado pela gritaria que havia acontecido há pouco no quarto. A mãe veio logo atrás, a raiva explicita em cada movimento. Voltou a gritar seguindo o marido. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">“Ex, agora.” Pensou a filha sentada à mesa para almoçar.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">A mãe visivelmente exaltada, delatava tudo o que ele haveria feito. O mundo precisava saber.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Expulsou-o de casa. Era o fim, afinal. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">O pai, como um velho CD arranhado, apenas repetia que não iria a lugar algum. Se queria convencer os filhos ou a si mesmo, não se sabe.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Uma cena incomum. Incomum para aquela família que se despedaçava.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Em seu quarto a caçula chorava por uma dor que não conseguia entender. Os outros fingiam que nada havia acontecido. Que aquilo não era com eles. Concentravam-se na comida, nas matérias que iram estudar, nas notas, na rotina.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Quando o pai sentou-se à mesa para a refeição, uma dúvida surgiu na cabeça da menina. Tão rápido quanto uma luz sendo acesa. Assim como um clique de uma máquina. Clique.</span> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">A dúvida a tornou diferente dos outros. Mesmo que só por um momento. Como se fosse a única cor no meio de um filme preto e branco.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Pai, — Começou baixinho. — Se tu realmente sair de casa... — Era agora, a pergunta que não queria calar. — Compra um apartamento em Tirol?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Eu não vou sair de casa. Não vou a lugar algum. — Respondeu o pai, um tanto quanto frio.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">— Tudo bem, — Estava mais tranqüila, por finalmente ter falado. — Mas não esquece. — Ela precisava garantir.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Antes de tirar rápidas conclusões sobre como a garota não entendeu o que toda a situação significava, pense nos acontecimentos e na pergunta. Sei que concluirá que aconteceu exatamente o contrário. Foi por entender totalmente a semântica da história que ela perguntou aquilo. Oras, não foi com ela. Ela não tem culpa do pai ter feito o que fez.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Saber que nada de muito grande mudaria em sua vida era o principal. Ela continuaria sendo sua mãe. Ele continuaria sendo o seu pai. Apenas não estariam mais juntos. Estariam em <i>casas </i>e<i> vidas</i> separadas. Com apenas um elo de ligação. Ela não mudaria de escola ou perderia amigos. Ela ficaria bem. Ela vai ficar bem. Todos vão.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Calibri;">“No final tudo dá certo, se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim”</span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Fernando Sabino</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-84770748564324914152010-10-21T19:54:00.000-07:002010-10-21T19:54:00.027-07:00Desabafo - número um (porque nunca gostei de abreviações)<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 27pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 27pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 27pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 27pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 27pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 27pt;"><strike><span style="font-family: Calibri;"> Eu espero que <i>ninguém</i> leia isso. E no sentido mais literal da palavra. </span></strike></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-409102422086552713.post-26819559774292548722010-10-20T21:32:00.000-07:002010-10-20T21:32:19.727-07:00Começos<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Era linda. Mesmo depois de tanto tempo. Não cansava de olhá-la. Não havia como. Envolvida pelo algodão tornava-se mais angelical, e ele sentia-se nas nuvens, sempre. Não acreditava. Lembranças.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Conheceram-se não havia muito tempo. Em um parque qualquer pela cidade. O mais bonito. Talvez a presença dela o tivesse transformado, o parque e o homem. De vestido florido e cabelos ao vento ela lia. Pouco se importava com o mundo a sua volta, estava em outra dimensão.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ele passava pela árvore, na qual ela se encostara, pela milésima vez. Ensaiava um cumprimento. Olá como vai. Não era bom, nada discreto. Resolveu se aproximar, assim, como quem não quer nada. Compartilhar da paz imensurável que dela transbordava. Ai. Caiu.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Perfeito. Ela olhou. Riu. Devia prestar mais atenção por onde anda. Ele concordou. Cumprimentos, um aperto de mão, foi o suficiente. Ela percebeu. Conversaram então, besteiras, política, o mundo atual. Tudo fazia sentido. Marcaram um encontro. Mais um, e outro.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Até que ela o convidou pra entrar. Finalmente, a certeza da vitória. Inacreditável. Nem era tão bonito assim, mas ela. Ela era linda. E cada sorriso que lhe dava era novo, uma sensação nova. O mais lindo e sincero olhar do mundo. Não conseguiria mentir, o olhar e o homem, não sobre como ela era. Um suspiro.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Era o cara mais divertido que já conhecera. Sensato, direito, inteligente. Mas lento. Deu todas as indiretas. Ele nada. Arriscou. Chegou mais perto, e quase disse alguma coisa. Um beijo. Nada mais devia ser dito.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Deixaram-se levar pelo amor. Isso, amor. Ele a amava. Queria lhe dizer, mas não sabia como. Eu te amo. Simples, um encanto. Eu também. Nostalgia, para os dois. Não dançaram pela sala, mas queriam. O que não queriam era parecer muito bobos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Um ano. Mas já? O mais feliz da minha vida. Da nossa. É, <i>nossa</i>, agora eram um só. Não acreditavam. Era muita felicidade, qualquer coisa era motivo de alegria. A faculdade, o emprego, o noivado. Um sorriso, aquele sorriso. Era como a primeira flor a desabrochar na primavera, aquela que diz que tudo agora vai voltar a ser bonito.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">A casa dos sonhos. Não era deles, mas com o tempo, tudo se tornou. Cada cantinho, cheiro e poeira. E o que mais importava, eles pertenciam um ao outro. Há muito tempo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">De repente, não eram mais só eles dois. Eram três. Como contar pra ele? Ele não ia gostar. Ela se enganou. Só brigaram pra escolher o nome. Roberto, o nome do tio herói de guerra. Não mesmo, dá azar, não vou colocar no meu filho um nome de gente morta. Arthur, que é nome de rei, muito melhor. Mas esse rei também já morreu. E agora? Se for menina, Amélia. O nome da sua mãe? Só pra me lembrar todo dia que ela existe? Maria então. Mas isso é nome de bolacha. A dúvida. E agora?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Não importava mais. O bebê mais lindo que eles já viram. Riu, pros dois. O nome ficou Arthur mesmo. A mulher tem sempre razão. Eram uma família agora. E uma das mais felizes. O novo. Aquilo sempre funcionou pra eles, sempre trouxe mais alegria.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Tossiu. Não foi nada. Tomou um comprimido qualquer pra gripe fraca. De novo. Não passou. Uma tontura, dor na cabeça. Desmaiou. Medo. Foram ao hospital, até que enfim. Desespero. Uma folha, um diagnóstico. Como a vida podia mudar tanto de uma hora pra outra? Mas já tinha acontecido. No começo. Só que dessa vez era o fim.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Ela não agüentava mais. Aquelas pessoas, aquele quarto, a luz, o cheiro. Queria a casa dela. O lugar que era deles. O câncer, bem, não tinha jeito.<span> </span>Queria morrer em casa. Tristeza. Uma sensação velha, mas que a muito não experimentava. Era o amor da sua vida. Arthur entendeu. Quando voltou da faculdade e a mãe não estava lá. Chorou. Choraram. Lembranças.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18pt;"><span style="font-family: Calibri;">Mas agora, agora ela voltara. Estava com ele, ali. Na cama, no leito. Com ele. Segurava a sua mão e sorria. O sorriso. Uma alucinação. Era o seu fim, mas como? Sua vida acabara anos antes. Não, não era um novo fim. Apenas mais um começo.</span></div>Nêgahttp://www.blogger.com/profile/03325678087770480540noreply@blogger.com1