segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pela janela

Estar sozinha em casa naquela noite a assustava um pouco. Mas, só um pouco. Tá talvez fosse mais que isso. Tinha acabado de assistir um filme de terror com o namorado. O mais terrível de todos os filmes de terror de sua vida. Também o único, mas ninguém precisava saber.
Os pais saíram para um jantar com alguns amigos e o namorado precisava ir pra casa. Ou seja, estava sozinha naquela enorme, escura e sombria com a noite, caixa de concreto. Respirou fundo. Foi até seu quarto acendendo as luzes pelo caminho. Deixou a bolsa, os sapatos, e trocou o vestido por uma roupa mais confortável.
Voltou para a sala e ligou a televisão. Uma reportagem sobre desnutrição, um desenho animado, um filme qualquer com a pior dublagem do mundo. É, nada de interessante para ver. Desligou a televisão e continuou deitada no sofá, tentando pensar em algo para fazer... Nada. Sua mente estava vazia.
Pelo menos, estar vazia era melhor do que pensando em... Droga! Por que tinha que ter pensado naquilo? Agora estava novamente angustiada. Começou a olhar para os lados, desconfiada. Qualquer barulho lhe assustava.
Pam! Alguém bateu à porta, em seguida, uma risada. A risada mais que maléfica. Encolheu-se no sofá. E lembrou da cena mais horrível do filme. Estava sonhando. Só podia. Pam! Bateram novamente. Foi atender a porta com o celular em mãos. Parou.
Diante a entrada seu coração pulava de seu peito. Suava frio e tremia. Engoliu em seco. O que fazer? Colocou a mão na maçaneta e respirou fundo. Antes de abrir a porta ligou para o namorado. Não atendeu. De novo. A mesma coisa. Mais uma vez.
“Alô?” ela escutou do outro lado da linha. Alívio. Explicou tudo rapidamente. “Alô?” ele perguntou novamente. Ela não entendeu. “Isso é algum tipo de brincadeira? Se for não tem a menor graça!” ele disse furioso, estava ocupado com a mãe doente, não podia perder tempo com brincadeira de criança. Ela entrou em desespero. Tentou gritar para ele que era ela, que não estava brincando, que estava com muito medo, mas nada saía e ele desligou enfurecido. Soluço.
Quem estava batendo à porta cansou de esperar. A porta abriu-se sem ela fazer uma força sequer. Gritou. Viu quem era e saiu correndo. Escorregou na escada. Desespero. Ele vinha atrás dela. Com uma máscara de soldador e o avental de jardineiro. Nunca havia visto aquele sujeito em sua vida. Mas, mais assustador impossível.
Levantou-se, correu mais um pouco e escorregou novamente. Ele a alcançou. Colocou-a de pé rapidamente e pressionou a garota contra a parede. Tirou a máscara. E olhou diretamente para os olhos verdes e assustados.
Era bonito. Mas definitivamente um maníaco. Tirou a luva de uma das mãos e acariciou a pele macia da jovem. Nunca tinha visto beleza tão pura. Tirou a outra luva e correu suas mãos por toda a extensão do corpo dela. Linda.
Beijou o pescoço, os ombros e rasgou a camiseta velha. Por baixo da roupa confortável, a lingerie mais sexy que já tinha visto. Ela estava horrorizada, mas não conseguia gritar novamente. Não esperneou, pois não queria atiçar os instintos do estuprador. Ele arrancou a calça dela em um segundo. Entrou no primeiro quarto que encontrou e jogou-a na cama.
Arrancou a calcinha branca, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa. Um grito, estrondoso, agudo e aterrorizado. Pam!
Acordou. Foi só um sonho. O mais horrível de sua vida. Olhou rapidamente em volta. Ainda estava na sala, havia adormecido com a reportagem sobre desnutrição. Escutou chaves na porta. Os pais, até que enfim. Desligou a televisão e subiu rapidamente. Tão rapidamente, que não pôde ver quem a observava pela janela.

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