sábado, 7 de setembro de 2013

Desabafo - número três (porque abreviações continuam chatas)

Eu sempre me considerei uma pessoa muito indecisa. Às vezes tinha a impressão de ser a mais indecisa de todas elas. Ou seja, eu sempre preciso de alguém que seja decidido por mim. Porque a minha indecisão é por gostar demais de “tudo”, e não saber escolher. Por exemplo, eu adoro sushi, e adoro sanduíche, mas quase nunca consigo escolher o que vou comer sozinha. Sempre existe um fator mais "decidido" que faz isso por mim (normalmente um amigo que aparece comendo uma das duas coisas na minha frente ou meu dinheiro no momento).
Só que nem toda decisão é tão simples quanto sobre o meu almoço. E eis que chegamos ao ponto que eu queria: Não dá pra ninguém decidir por mim se eu quero ser solteira, ou se eu quero estar namorando. Não dá pra pedir solteira na quarta e namorando na sexta. Quem dera fosse simples assim.
O pior é que no fundo (lá no fundo, bem no fundo mesmo) eu sei o que eu quero. Ou acho que sei. Mas o que eu quero não existe. E eu já me magoei tanto esperando e sonhando com isso, que decidi que não queria mais. Guardei num potinho e escondi lá dentro de mim. Apostar demais na emoção não estava funcionando.
Eu criei um ideal altamente utópico do que eu quero. Quer uma prova? Vou tentar transcrever o que tá lá no potinho: Eu quero alguém que me queira tanto que esteja disposto a me mostrar, sem forçar nada, que é ele quem eu quero também. Quero alguém que me faça sentir formigando só de lembrar dele, o dia todo. Quero alguém que tome a iniciativa que eu não tenho coragem de tomar. Que me chame pra sair, mas que seja direto, sem deixar brecha pra mal entendidos sobre quem vai ou de qualquer outro tipo. Quero alguém que dê a cara a tapa, que venha falar comigo sem saber se tem chance. Que me olhe nos olhos e diga “eu quero você”. E que quando eu começar a rir, chegue mais perto, pra eu saber que é verdade. Quero alguém que me roube um beijo, só porque pode ser que o momento passe. Quero alguém que simplesmente me abrace, me beije no pescoço, e me diga que eu cheiro muito bem. Alguém que adore o meu jeito maluquinho e que queira conhecer cada pedacinho meu. Que sorria bobamente na rua só por lembrar de mim. Que me faça um elogio espontâneo que vai ficar na minha cabeça por meses. Quero alguém que queira cuidar de mim, estar perto de mim e não me cobre nada. Alguém com quem eu possa construir um sentimento mútuo, que me dê liberdade e espaço. E que pura e simplesmente, me ame.
Você pode pensar agora “ah, não é impossííííííível...”, moça, pra completar: Eu quero que seja recíproco. Afinal, de que adianta se não for?
Resumindo: Eu quero alguém que não existe. Vê? Nem sei se algum dia vai existir. Mas sei que não quero isso agora. Pelo menos eu acho. Quer dizer... Percebe-se que é aqui que entra a indecisão. Pra fechar com chave de ouro. Já não bastasse tudo ser muito confuso, a indecisão ainda vem pra bagunçar mais e ao mesmo tempo me impedir de passar os dias chorando por uma utopia.
Às vezes acho que o errado é querer encontrar uma pessoa assim pra sempre. Que o certo seria encontrar várias pessoas assim durante a minha vida. Mas tenho tanto medo que acho que me fechei pra qualquer um que seja, ou pareça, ou simplesmente tente ser esse ideal. E assim, no fim, eu fico na merda do mesmo jeito.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Porque não consegui ficar calada.

Gostaria de poder dizer que hoje foi um dia lindo em todo país. Que o sentimento de mudança tomou conta, e que todos resolvemos lutar pelo que merecemos: um país justo, com educação, saúde, transporte público e políticos de qualidade. Um país que respeita as diferenças e as opções de cada um. Um país que teremos orgulho de chamar de nosso.
Cheguei em casa com um sentimento bom, tomada pelo espírito da luta. Ver tantas pessoas caminhando pelas ruas da cidade (e faltando tantos meses para o Carnatal!) foi incrível. O momento que me dei conta da proporção do movimento? Mais ainda. Tive que subir naquelas divisórias da BR pra visualizar melhor. Olhei pra frente e não conseguia acreditar. Virei-me e soltei um suspiro de satisfação. A galera foi pra rua.
Aqui em Natal nós tomamos alguns sustos. Corremos desesperados algumas vezes. Mas nada aconteceu, não comigo e meus amigos, ao menos. A confusão mesmo se deu perto do maior shopping da cidade, onde vândalos perderam o controle e a polícia teve que agir. E, aparentemente, na Av. Prudente de Morais, com tentativas de assalto a bancos.
É vergonhoso pensar que em meio a um movimento tão bonito, tenham pessoas que só querem “fazer bagunça”. Pichar paredes, quebrar vitrines, virar carros de emissoras de TV, depredar de modo geral o patrimônio público (ou não), não é, nem de longe, a melhor maneira de conquistar nossos objetivos. Assim só se perde a razão.
Mas não foi por isso que resolvi escrever esse texto.
Quando voltava da manifestação passamos por policiais que nada mais nada menos, ajudavam as pessoas a voltarem pela Salgado Filho. Mantendo a rua fechada, para que caminhássemos livremente. Eles não moveram um fio de cabelo para nos machucar. E foram aplaudidos. Teve até quem foi tirar foto com eles. E eu só conseguia pensar em uma coisa “Será que isso tá acontecendo só aqui?”
Porque pra mim, até chegar em casa, e tirando as confusões no shopping e na Prudente, o dia foi lindo. A população compareceu e mostrou que quer mudanças. E que sabemos lutar pelo o que queremos – pelo menos a maioria. Mas, eu não fazia ideia do que estava acontecendo nos outros estados.
 A primeira coisa que descobri quando cheguei em casa foi sobre a reação da polícia em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília... Me desanimei um pouco. Não completamente, porque sei que mesmo assim o movimento foi especial. Conseguimos fazer barulho, de uma maneira incrivelmente positiva.
Até que eu escuto no jornal o repórter noticiar que um jovem de 20 anos morreu atropelado em Ribeirão Preto, por um carro que não respeitou a manifestação, e avançou contra a barreira de manifestantes. Já fiquei chocada. Depois, resolvo dar uma olhada nas redes sociais e vejo esse vídeo: https://www.facebook.com/photo.php?v=563613837023366. Tentei me conter, mas não consegui. Ele acabou comigo. Quanta imbecilidade é necessária pra fazer o que esse cara fez? Quanta burrice, irracionalidade, falta de humanidade? Não sei. Não consigo aceitar. Ele não ganhou nada com isso, além de prejuízo.

Gostaria de conseguir demonstrar o quão chocada e horrorizada fiquei. Mas as palavras se perdem. Completamente consternada com o acontecido, só me resta mandar meus sentimentos às famílias das duas pessoas que faleceram por causa dessa atitude desumana. E torcer para que todos os outros feridos fiquem bem e que fatos como esse não voltem a se repetir nos muitos protestos que ainda virão.  Porque por mais que a repressão seja forte, sei que vamos mostrar que viemos pra mudar.