sábado, 30 de outubro de 2010

Fases

Fases são aquelas etapas e processos do crescimento pelas quais todos passaram ou passarão. Denominadas pelos estudiosos como “fases” para, sei lá, parecer que alguma conclusão já foi tomada. É apenas mais um modo de tentar entender o comportamento humano. Enfim, não quero falar sobre como os mais velhos insistem nessa coisa de entender o nosso comportamento, quando às vezes agimos mais irracionalmente do que qualquer outro animal.
Quero dar a minha própria perspectiva sobre algumas dessas “etapas”. Sabe aquela fase da infância, quando você tem entre seis e sete anos, e se torna uma criança curiosa, em busca de entender todos aqueles dilemas para os quais você não conseguiu achar uma resposta plausível, na famosa “Fase do Porquê” que ocorre entre os dois/três anos de idade?
Então minhas primas estão passando por ela (Deus queira que seja só passando!) é uma das piores. Porque além de afetar quem está passando por ela, afeta as pessoas do círculo social da tal criança. Quer um exemplo?
Você está lá servindo de babá-por-um-dia a contra gosto. Daí vem aquela pobre, curiosa e inocente criança e diz “Posso fazer uma pergunta?”. Você vira e encara aqueles pequenos olhinhos trêmulos e lacrimejantes, sedentos por sabedoria. E aquela carinha de anjo sorrindo com quatro dentes de leite (porque o resto já foi) suplicando pra você responder uma perguntinha só... Não tem como dizer não.
Talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas ainda assim, você responde na boa. O que ela poderia querer saber? Você diz sim e espera que ela pergunte “Por que o céu é azul?”, “Papai Noel existe?”, “Qual a fórmula da Coca-Cola?”. Ou ainda, naqueles casos mais extremos “De onde vêm os bebês?”. Perguntas fáceis e de respostas automáticas — “Porque sim”. “Não, digo, sim”. “Isso é mito!”. “Simples, cegonhas”).
E lá estão vocês, no parque, praça, quadra (qualquer lugar cheio de outras crianças, pais e afins). E ela solta a pergunta: “Você já tem menstruação?”. TODO MUNDO PARA. Não importa se você é menino ou menina. Ela vai perguntar do mesmo jeito. Vai te constranger do mesmo jeito.
Sabe por quê? Porque primeiro: você não vai saber o que responder. Segundo: as outras crianças não vão saber o que é “menstruação”. Terceiro: quando você tentar explicar, aquelas da “Fase do Porquê” vão ficar o tempo todo perguntando por que. Pra tudo.  E pra finalizar: as mães que estão por perto vão achar que você é uma pessoa pervertida ensinando coisas insanas para os filhos delas. Daí você vai ganhar de presente uma ordem jurídica que vai te proibir de chegar perto do tal parque, praça ou qualquer outra coisa.
O pior nessa história toda, é que no final, no final mesmo, depois de tudo o que você já passou. O constrangimento, a vergonha, a ordem judicial. Ainda vem aquela criança um pouco mais velha, que está passando pela “Fase da Mentira” e diz que tudo o que você disse não é verdade. Ela acaba com você. Com a sua moral. Porque a Criança Curiosa vai acreditar nela e não em você.
E as únicas conclusões que podemos tirar disso tudo é que é inútil discutir. Por maior que seja sua paciência. No final uma criança malvada vai pisotear a sua moral. Então se sua irmãzinha, priminha, vizinhinha ou qualquer outra coisa que defina uma criança pequena vier te fazer uma pergunta, por mais inocente que ela seja (a pergunta, não a criança, acho que deu pra perceber que no fundo nenhuma delas é), não tente responder do jeito certo, ela não vai acreditar em você mesmo.
E que mais inútil do que tentar explicar, é tentar entender as “fases”. Porque elas vão se influenciar, se misturar e perder o sentido. Daí não adianta criar conceitos ou tirar conclusões. As criancinhas não vão prestar atenção e vão, simplesmente, bagunçar tudo.
 
...Essa foi uma visão bem pessimista da infância, não levem tão a sério.

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